Dom Casmurro | Resenha
- Gaby Benfatto
- 13 de jul. de 2019
- 6 min de leitura
Lembram o que falei, a algum tempo sobre trazer resenhas de clássicos que eu lê-se para o colégio? Hoje chegou o dia, caso queira saber mais desce a tela!

Joaquim Maria Machado de Assis nasceu em 21 de junho de 1839 na cidade do Rio de Janeiro. Neto de escravos alforriados, foi criado em uma família pobre e não pode frequentar regularmente a escola. Porém, devido a seu enorme interesse por literatura, conseguiu se instruir por conta própria. Entre os seis e os quatorze anos, Machado de Assis perdeu sua irmã, a mãe e o pai. Outras Obras: “Ressurreição” (1872), “A mão e a luva” (1874), “Helena” (1876), “Iaiá Garcia” (1878), “Memórias Póstumas de Brás Cubas” (1881), “Dom Casmurro” (1899), “Esaú e Jacó” (1904)
Publicado pela primeira vez em 1899, uma das grandes obras de Machado de Assis e confirma o olhar certeiro e crítico que o autor estendia sobre toda a sociedade brasileira. Também a temática do ciúme, abordada com brilhantismo, provoca polêmicas em torno do caráter de uma das principais personagens femininas da literatura brasileira: Capitu.
Essa obra é bem conhecida ou pelo menos a personagem Capitu uma suposta traição. Foi adaptada para o cinema, teatro e TV, mas é lendo que você tem acesso a história crua e pode tirar suas próprias conclusões.
Com 148 capítulos curtos, em sua maioria, e é contada em primeira pessoa por Bentinho, um homem de idade avançada, e que em meio a solidão e o isolamento nos quais se encontra, procura relatar a história de sua vida, ou melhor, ele faz uma retrospectiva sobre os fatos que lhe marcaram desde sua juventude até a fase adulta.
Contexto
A temática da traição, presente em Dom Casmurro, é instigante por si só. A traição conduz o ser humano aos limites da racionalidade e à beira da perda da razão. No entanto, o traço fundamental da obra é o questionamento da verdade, entendida como um dos edifícios do realismo a que o próprio escritor pertencia. A intensidade desse diálogo – com o tempo, com as emoções humanas e com a arte – faz de Dom Casmurro um romance de releituras sempre proveitosas.
As marcas mais evidentes do estilo machadiano estão presentes no livro: a digressão (suspensão da narrativa para o desenvolvimento de reflexões paralelas), a metalinguagem (discurso sobre a própria arte) e o diálogo com o leitor, quase sempre conduzido com fina ironia.
O Brasil da segunda metade do século XIX era uma economia em formação e em transformação. O estabelecimento de bases capitalistas relativamente modernas convivia, e conviveria ainda por muito tempo, com a persistência de hábitos e pensamentos conservadores.
Pessoa Tempo: Narrado pelo próprio Dom Casmurro, história de sua vida e por falar muito dos outros varia de narração em 1ª e 3ª pessoa. Sendo assim, um narrador-protagonista.

Resumo
O romance inicia-se numa situação posterior a todos os seus acontecimentos. Bento Santiago, já um homem de idade, conta ao leitor como recebeu a alcunha de Dom Casmurro. A expressão fora inventada por um jovem poeta, que tentara ler para ele no trem alguns de seus versos. Como Bento cochilara durante a leitura, o rapaz ficou chateado e começou a chamá-lo daquela forma.
O narrador inicia então o projeto de rememorar sua existência, o que ele chama de “atar as duas pontas da vida”. O leitor é apresentado à infância de Bentinho, quando ele vivia com a família num casarão da rua de Matacavalos.
O primeiro fato relevante narrado é também seu primeiro motivo de preocupação. Bentinho escuta uma conversa entre José Dias e dona Glória: ela pretende mandá-lo ao seminário no cumprimento de uma promessa feita pouco antes de seu nascimento. A mãe, que já havia perdido um filho, prometera que, se o segundo filho nascesse “varão”, ela faria dele padre. Na conversa, dona Glória soubera da amizade estreita entre o menino e a filha de Pádua, Capitolina.
Bentinho fica furioso com José Dias, que o denunciara, e expõe a situação a Capitu. A menina ouve tudo com atenção e começa a arquitetar uma maneira de Bentinho escapar do seminário, mas todos os seus planos fracassam. O garoto segue para o seminário, mas, antes de partir, sela, com um beijo em Capitu, a promessa de que se casaria com ela.
No seminário, Bentinho conhece Ezequiel de Souza Escobar, que se torna seu melhor amigo. Em uma visita a sua família, Bentinho leva Escobar e Capitu o conhece.
Enquanto Bentinho estuda para se tornar padre, Capitu estreita relações com dona Glória, que passa a ver com bons olhos a relação do filho com a garota. Dona Glória ainda não sabe, contudo, como resolver o problema da promessa e pensa em consultar o papa. Escobar é quem encontra a solução: a mãe, em desespero, prometera a Deus um sacerdote que não precisava, necessariamente, ser Bentinho. Por isso, no lugar dele, um escravo é enviado ao seminário e ordena-se padre.
Bentinho vai estudar direito no Largo de São Francisco, em São Paulo. Quando conclui os estudos, torna-se o doutor Bento de Albuquerque Santiago. Ocorre então o casamento tão esperado entre Bento e Capitu. Escobar, por seu lado, casara-se com Sancha, uma antiga amiga de colégio de Capitu. Capitu e Bentinho formam um “duo afinadíssimo”.
Essa felicidade, entretanto, começa a ser ameaçada com a demora do casal em ter um filho. Escobar e Sancha não encontram a mesma dificuldade: têm uma bela menina, a quem colocam o nome de Capitolina.
Depois de alguns anos, Capitu finalmente tem um filho, e o casal pode retribuir a homenagem que Escobar e Sancha lhe haviam prestado: o filho é batizado com o nome de Ezequiel.
Os casais passam a conviver intensamente. Bento vê uma semelhança terrível entre o pequeno Ezequiel e seu amigo Escobar, que, numa de suas aventuras na praia – o personagem era excelente nadador -, morre afogado.
Bento enxerga no filho a figura do amigo falecido e fica convencido de que fora traído pela mulher. Resolve suicidar-se bebendo uma xícara de café envenenado. Quando Ezequiel entra em seu escritório, decide matar a criança, mas desiste no último momento. Diz ao garoto, então, que não é seu pai. Capitu escuta tudo e lamenta-se pelo ciúme de Bentinho, que, segundo ela, fora despertado pela casualidade da semelhança.
Após inúmeras discussões, o casal decide separar-se. Arruma-se uma viagem para a Europa com o intuito de encobrir a nova situação, que levantaria muita polêmica. O protagonista retorna sozinho ao Brasil e se torna, pouco a pouco, o amargo Dom Casmurro. Capitu morre no exterior e Ezequiel tenta reatar relações com ele, mas a semelhança extrema com Escobar faz com que Bento Santiago o rejeite novamente. O destino de Ezequiel é infeliz: ele morre de febre tifóide durante uma pesquisa arqueológica em Jerusalém.
Triste e nostálgico, o narrador constrói uma casa que imita sua casa de infância, na rua de Matacavalos. O próprio livro é também uma tentativa de recuperar o sentido de sua vida. No fim, o narrador parece menosprezar um pouco a própria criação. Convence-se de que o melhor a fazer agora é escrever outra obra sobre “a história dos subúrbios”.

Principais personagens
Bentinho (Bento Santiago): o narrador-personagem que conta suas memórias, membro da elite carioca do século XIX.
Capitu (Capitolina): grande amor de Bentinho, personagem de origem pobre, mas independente e avançada. Se torna namorada e posteriormente esposa de Bento.
Escobar: o melhor amigo de Bentinho, a quem conheceu quando estudaram juntos no seminário. compõe com Capitu o triângulo amoroso em que o narrador vê sua vida transformada.
Dona Sancha: mulher de Escobar, ex-colega de colégio de Capitu. Melhor amiga de Capitu
Dona Glória: mãe de Bentinho, adora o filho e é também muito religiosa. Quer que o garoto se ordene padre como cumprimento de uma promessa que fez.
José Dias: agregado que vive de favores na casa de dona Glória. Suposto médico, tem o hábito de agradar aos proprietários da casa com o uso de superlativos.
Tio Cosme: irmão de dona Glória, viúvo e advogado.
Prima Justina: prima de dona Glória, que, segundo o narrador, não tinha papas na língua.
Pedro de Albuquerque Santiago: pai de Bentinho, faleceu quando o filho ainda era muito pequeno.
Senhor Pádua e Dona Fortunata: pais de Capitu, que viam no possível casamento da filha com Bentinho uma possibilidade de ascensão social.
Ezequiel: filho de Capitu, sobre o qual o narrador sustenta forte dúvida quanto à paternidade, pois o garoto tinha grande semelhança física com Escobar.

Citações:
“Prometo rezar mil padre-nossos e mil ave-marias, se José Dias arranjar que eu não vá para o seminário”. (pág.48).
“Capitu era Capitu, isto é, uma criatura mui particular, mais mulher do que eu era homem” (pág.62)
“Como era possível que Capitu se governasse tão facilmente e eu não?” (pág. 130).
“A tudo acudíamos, segundo cumpria e urgia, coisa que não era necessário dizer, mas há leitores tão obtusos, que nada entendem, se se lhes não relata tudo e o resto. Vamos ao resto” (pág.160).
“Mas a saudade é isto mesmo; é o passar e repassar das memórias antigas”. - Dom Casmurro
Espero que tenham curtido o post, já provável que tenha mais resenhas assim por serem mais práticas para mim. Vejo vocês no próximo post!
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